– Ah! Gritou o clérigo no auge da felicidade, em troca de tal presente, quem não consentiria em perder a luz de seus olhos!
Mas, como alguém que crê estar perdido nas profundezas do firmamento ainda está preso às coisas da terra por um vínculo, por mais frágil e fino que seja, enquanto proferia estas palavras com entusiasmo, nosso clérigo, que não estava tão desapegado do mundo como pensava, com uma das mãos cobriu um dos olhos, e com o olho que ficara aberto, observou. O que ele viu, então, não existem palavras para contar. A Rainha da Glória apareceu para ele, em seu manto de belas noites, semeado de planetas e estrelas, no meio da sua Corte Celeste e de seus Anjos músicos. Mas a visão durou apenas o tempo de um relâmpago, deixando o jovem monge deslumbrado e mais infeliz do que antes, pois, pelo fato de ter visto Nossa Senhora uma vez, mais sequioso em revê-la ficou.
– Rainha da Beleza, gritou o monge, que eu perca meu segundo olho, mas que eu a veja pela segunda vez!
E o que ele viu, com o olho saudável, foi uma pobre mulher, exatamente como a que vemos pelas estradas, e que tinha no rosto tanta dor e tanta tristeza que as palavras não conseguem definir. Em seguida, a visão desapareceu mais uma vez, deixando o clérigo completamente cego, mergulhado nas trevas mais profundas.
– Rainha da Misericórdia, disse ele então, perdoe-me por lhe ter enganado, tapando um dos meus olhos, mas assim pude vê-la, mais bela ainda, se isto é possível, tanto na sua humildade quanto no seu esplendor !
A imagem, então, respondeu: