Na plenitude dos tempos, veio a nós a plenitude da divindade
Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador (cf.
Tt 3,4). Demos graças a Deus que nos dá tão abundante consolação neste
exílio, nesta peregrinação, nesta vida tão miserável.
Antes de aparecer a sua humanidade, a
sua bondade também se encontrava oculta; e, no entanto, esta já
existia, porque a misericórdia do Senhor é eterna. Mas como poderíamos
conhecer tão grande misericórdia? Estava prometida, mas não era
experimentada e por isso muitos não acreditavam nela. Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou por meio dos profetas (cf. Hb 1,1). E dizia: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). E o que respondia o homem, que experimentava a aflição e desconhecia a paz? Até quando direis paz, paz e não há paz? Por esse motivo, os mensageiros da paz choravam amargamente (cf. Is 33,7), dizendo: Senhor, quem acreditou no que ouvimos? (cf. Is 53,1). Agora, porém, os homens podem acreditar ao menos no que vêem com seus olhos, pois os testemunhos de Deus são verdadeiros (cf. Sl 92,5); e para se tornar visível, mesmo àqueles que têm a vista enfraquecida, armou uma tenda para o sol (Sl 18,6).
Agora, portanto, não se trata de uma
paz prometida, mas enviada; não adiada, mas concedida; não profetizada,
mas presente. Deus Pai a enviou à terra, por assim dizer, como um saco
pleno de sua misericórdia. Um saco que devia romper-se na paixão para
derramar o preço de nosso resgate nele escondido; um saco, sim, que
embora pequeno estava repleto.Pois, um menino nos foi dado (cf. Is 9,5), mas nele habita toda a plenitude da divindade (Cl 2,9). Quando chegou a plenitude dos tempos, veio também a plenitude da divindade.
Veio na carne para se revelar aos
que eram de carne, de modo que, ao aparecer sua humanidade, sua bondade
fosse reconhecida. Com efeito, depois que Deus manifestou sua
humanidade, sua bondade já não podia ficar oculta. Como poderia
expressar melhor sua bondade senão assumindo minha carne? Foi
precisamente a minha carne que ele assumiu, e não a de Adão, tal como
era antes do pecado.
Poderá haver prova mais eloqüente de
sua misericórdia do que assumir nossa miséria? Poderá haver maior prova
de amor do que o Verbo de Deus se tornar como a erva do campo por nossa
causa? Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho? (Sl
8,5). Por isso, compreenda o homem até que ponto Deus cuida dele;
reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito. Não perguntes, ó
homem, por que sofres, mas por que ele sofreu por ti. Vendo tudo o que
fez em teu favor, considera o quanto ele te estima, e assim
compreenderás a sua bondade através da sua humanidade. Quanto menor se
tornou em sua humanidade, tanto maior se revelou em sua bondade; quanto
mais se humilhou por mim, tanto mais digno é agora do meu amor. Diz o
Apóstolo: Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador.
Na verdade, como é grande e manifesta a bondade de Deus! E dá-nos uma
grande prova de bondade Aquele que quis associar à humanidade o nome de
Deus.
--São Bernardo, abade (século XII)
Fonte: Tesouros da Igreja católica
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