JESUS, EU CONFIO EN VÓS

Somo Servos da Misericórdia Divina.

O que é extraordinário, nos textos e mensagens entre Jesus e a Irmã Faustina, é que em qualquer dos textos citados podemos identificar-nos com a Irmã Faustina, como se estas mensagens estejam diretamente dirigidas a cada um de nós. A alma que tem sede de Deus, e por ter procurado uma intimidade com Ele, mas sem saber como a alcançar, está agora em plena consciência, enquanto anteriormente não distinguia claramente a Sua voz, nem compreendia a Sua mensagem, a partir da leitura das declarações de Jesus e suas interpretações da Irmã Faustina, o véu abriu-se e agora tudo ficou transparente e nítido.

Estas mensagens, que nos foram dirigidas, ao longo de toda a nossa vida, ganharam sentido, ultrapassando a barreira do tempo e agora disponíveis e compreensíveis para todos aqueles que o desejam, em comunhão com os Santos e a Santa Igreja, pela graça da Misericórdia Divina.


Diariamente, colocaremos citações da obra de Santa Faustina, ou de outros autores que também receberam graças muito especiais, que o ajudará, com certeza, na sua meditação diária.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014


A bondade do Senhor encheu a Terra inteira

Um dia, o Salvador virá restabelecer a força do nosso corpo, como diz o apóstolo Paulo: «Esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transfigurará o nosso pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso» (Fil 3,20-21) […].
O Deus Sabaoth, o Senhor todo-poderoso, o Rei de glória, virá dos céus transformar estes nossos corpos, para os tornar semelhantes ao seu corpo glorioso. Que glória, que alegria, quando o Criador do universo, que sob tão humilde aparência Se tinha escondido ao vir resgatar-nos, aparecer em toda a sua glória e majestade […], diante de todos os olhares, para glorificar estes corpos de miséria! Quem se lembrará então da humildade da sua primeira aparição, quando O virmos descer na luz, precedido de anjos que arrebatarão do pó os nossos corpos ao som da trombeta, para seguidamente os levarem ao encontro de Cristo (1Tess 4,16ss)? […]
Que a nossa alma se alegre portanto, e que o nosso corpo repouse na esperança, enquanto aguarda o nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo, que o há-de transformar para o tornar semelhante ao seu corpo de glória. Escreveu um profeta: «Se a minha alma tem sede de Ti, quanto não Te há-de desejar o meu corpo!» (Sl 62,2 Vulg.). A alma desse profeta pedia com todas as forças a primeira vinda do Salvador, que havia de vir resgatá-la; mas a sua carne pedia ainda mais vivamente a última vinda, em que será glorificada. Todos os nossos votos serão então cumpridos: a majestade do Senhor encherá a Terra inteira. Possa a misericórdia de Deus conduzir-nos a essa glória, a essa felicidade, a essa paz que ultrapassa tudo o que se pode imaginar (Fil 4,7) e que Nosso Senhor Jesus Cristo não permita que a nossa espera ardente no Salvador seja vã.

São Bernardo (1091-1153)
Monge cisterciense, Doutor da Igreja
6º sermão para o Advento

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Uma Virgem que surpreende os arqueólogos!


Em 1635, uma estátua de pedra, de 12,7 cm, no estilo das virgens negras, foi encontrada em Cartago – antiga capital da Costa Rica – por um escravo índio, no bairro "de la Puebla de Los Angeles". Destarte, a imagem foi chamada "Nossa Senhora dos Anjos".

Ela é conhecida como a “Virgem Negra”, mas, na realidade, sua cor é um cinza-esverdeado. A estátua se compõe de grafite, jade e pedra vulcânica, o que surpreende os arqueólogos, pois eles sabem que é difícil, se não impossível, unir as três pedras.

Além disso, naquela época não havia grafite na Costa Rica, mas só na Europa, enquanto que, na Europa, não existiam os dois outros tipos de pedras.

Em outras palavras, a composição da estátua, padroeira do país, possui as características dos dois continentes. A Virgem tem os traços de uma mestiça, o olhar voltado para quem a observa, enquanto seu Filho dirige-lhe o olhar e toca-lhe o coração, com a mãozinha.

Em 1824, o governo proclamou "A Rainha dos Anjos" padroeira da Costa Rica. Sua festa é comemorada no dia 2 de Agosto, dia em que os Franciscanos celebram Nossa Senhora dos Anjos na Porciúncula (Porziuncola), em Assis, na Itália. Foi, igualmente, no dia 2 de Agosto que a estátua foi encontrada. 
* 23 de novembro – Cristo, Rei do Universo – Itália: Nossa Senhora da Assunção (1624) – Nossa Senhora dos Anjos (Cartago, Costa Rica)  * Uma Virgem que surpreende os arqueólogos! -
Um Minuto com Maria
Une initiative de l'Association Marie de Nazareth 

sábado, 22 de novembro de 2014





        «Ele não é Deus de mortos, mas de vivos»

A carne é preciosa aos olhos de Deus, Ele prefere-a entre todas as suas obras; é por isso normal que a salve. […] Não seria absurdo que o que foi criado com tantos cuidados, aquilo que o Criador considera mais precioso do que o resto, regressasse ao nada?
Quando um escultor ou um pintor querem que as imagens que criaram permaneçam para servir a sua glória, restauram-nas quando se degradam. E Deus veria o seu bem, a sua obra, regressar ao nada, deixar de existir? Chamaríamos «operário do inútil» àquele que construísse uma casa para a destruir em seguida ou que a deixasse deteriorar-se quando a pode restaurar. Do mesmo modo, não acusaríamos Deus de criar a carne inutilmente? Mas não, o Imortal não é assim; Aquele que é por natureza o Espírito do universo não é insensato! […] Na verdade, Deus chama a carne a renascer e promete-lhe a vida eterna.
Pois quando se anuncia a Boa Nova da salvação do homem, anuncia-se essa Boa Nova também para a carne. Com efeito, o que é o homem senão um ser vivo dotado de inteligência, composto por uma alma e um corpo? A alma, só por si, faz o homem? Não, ela é a alma de um homem. Chama-se «homem» ao corpo? Não, diz-se que é um corpo de homem. Por isso, se nenhum destes dois elementos por si só é o homem, é à união dos dois que se chama «o homem». Ora, foi o homem que Deus chamou à vida e à ressurreição; não uma parte dele, mas o homem inteiro, ou seja, a alma e o corpo. Não seria então absurdo, uma vez que os dois existem segundo a mesma realidade e na mesma realidade, que um deles fosse salvo e o outro não?

São Justino (c. 100-160)
Filósofo, mártir - Tratado sobre a Ressurreição, 8

sábado, 15 de novembro de 2014



«É preciso orar sempre sem desfalecer»

O objectivo último do monge e a perfeição do coração consistem numa perseverança ininterrupta na oração. Tanto quanto é dado à fragilidade humana, trata-se de um esforço em direcção a uma absoluta tranquilidade da alma e a uma perfeita pureza de coração. É por esta razão que devemos afrontar os trabalhos corporais e procurar por todos os meios a verdadeira contrição do coração, com uma constância que não desfaleça.
Para ter o fervor e a pureza que deve ter, a oração exige uma fidelidade total no que respeita aos seguintes aspectos. Em primeiro lugar, uma libertação completa de todas as inquietações relacionadas com este mundo; não pode haver assunto algum ou qualquer interesse que não deva ser totalmente excluído. Do mesmo modo, renunciar à maledicência, à coscuvilhice, à palavra vã e à zombaria. Acima de tudo, suprimir definitivamente as perturbações da cólera e da tristeza. Fazer morrer em si todo o desejo carnal e o apego ao dinheiro. […] Após esta purificação, que assegura a pureza e a simplicidade, há que lançar o fundamento inquebrantável de uma humildade profunda, capaz de sustentar a torre espiritual que se pretende que chegue ao céu. Por fim, para que sobre ela repouse o edifício espiritual das virtudes, é preciso proibir à alma toda a dispersão em divagações e pensamentos fúteis. Então, um coração purificado e livre começa pouco a pouco a elevar-se até à contemplação de Deus e à intuição das realidades espirituais.

São João Cassiano (c. 360-435)
Fundador de mosteiro em Marselha
Conferências, n°9; SC 34

terça-feira, 4 de novembro de 2014


Não há maior amor

«Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz os pobres»


O pobre não tem somente fome de pão; também tem uma terrível fome de dignidade humana. Nós temos necessidade de amor e de existir para alguém. E é aí que comentemos um erro sempre que empurramos as pessoas para baixo. Não só recusámos aos pobres um pedaço de pão, como além disso, ao considerá-los como nada, abandonando-os na rua, lhes recusamos essa dignidade que é sua, de pleno direito, enquanto filhos de Deus. Hoje em dia, o mundo não tem fome só de pão, mas também de amor; tem fome de ser desejado, de ser amado. As pessoas têm fome de sentir a presença de Cristo. Em muitos países, há de tudo em abundância, excepto essa presença, essa benevolência.
Há pobres em todos os países. Há continentes em que a pobreza é mais espiritual que material: é uma pobreza feita de solidão, de desalento, de ausência de sentido. Mas também nas ruas da Europa e da América vi pessoas na maior miséria, a dormir em caixas de papelão, vestidas de trapos. Tanto Paris como Roma e Londres conhecem essa forma de pobreza. É tão simples falar sobre os pobres que estão longe ou preocuparmo-nos com eles. É mais difícil, e quiçá um desafio maior, prestar atenção e preocuparmo-nos com o pobre que vive a dois passos da nossa casa.
O arroz, o pão que dou ao esfomeado que encontro na rua acalmar-lhe-ão a fome. Mas é muito difícil saciar a fome daquele que vive na exclusão, na falta de amor e cheio de medo. Vós, que viveis no Ocidente, muito mais que a pobreza material, conheceis a pobreza espiritual e é por isso que os vossos pobres estão entre os mais pobres. Entre os ricos, há muitas vezes pessoas espiritualmente muito pobres. A meu ver, é fácil alimentar quem tem fome ou dar dormida a um sem-abrigo. Mas consolar, apagar a amargura, a cólera e o isolamento que resultam da indigência espiritual, isso exige muito mais tempo.

Beata Teresa de Calcutá (1910-1997)
Fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
fonte: Arautos do Evangelho

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Criação e o erro dos criacionistas


Hoje num encontro com membros da Pontifícia Academia de Ciências, o Papa Francisco falou brevemente sobre a criação. Acho que ficou muito bom, pois em breve palavras explica a questão do criacionismo, a ciência, e a visão da Igreja.

"Quando lemos o relato da criação na Bíblia podemos imaginar que Deus é um mágico que com uma varinha de condão criou todas as coisas. Porém não é assim. Deus criou a natureza e a deixou se desenvolver segundo as regras de cada coisa, para que possa alcançar sua potencialidade. Deu a tudo autonomia, a todos seres do universo, ao mesmo tempo que lhes assegurava sua presença contínua. E assim a criação seguiu sua marcha por séculos e séculos, milênios e milênios, até se converter no que conhecemos hoje; exatamente porque Deus não é um mágico, mas sim o Criador de todas as coisas. O início do mundo não é obra do caos nem Deus deve sua origem à algum outro, mas deriva diretamente de um princípio supremo que cria tudo por amor. O Big Bang, onde se situa a origem do mundo, não contradiz a intervenção de um Deus criador, mas ao contrário, requer. A evolução da natureza não contraria a idéia da criação, por que a evolução pressupõe a criação daquilo que evolui.

Quando ao ser humano, há uma mudança e uma novidade. Quando, no sexto dia da história do Gênesis, chega a criação do homem, Deus dá ao ser humano outra autonomia, algo diferente de toda natureza, que é a liberdade. E diz ao homem que ponha nome em todas as coisas e siga adiante o curso da história. Faz o homem responsável pela criação, para que domine a criação, para que a desenvolva até o final dos tempos."

Fonte: Tesouros da Igreja Católica


Os apóstolos, testemunhas de Cristo ressuscitado


São Paulo dizia: «A fraqueza de Deus é mais forte do que todos os homens» (1Cor 1,25). Que a pregação é obra de Deus, é evidente; pois como poderiam doze homens ignorantes ter tido a ideia de proceder a tal diligência, eles que viviam perto de lagos e de rios e no deserto? Como poderiam, eles que nunca tinham visitado as cidades e respectivas assembleias, pensar em mobilizar-se contra o mundo inteiro? Eles estavam cheios de medo, e o evangelista mostra-o bem, pois não quis desculpar nem esconder os seus defeitos. Isto é uma prova muito forte de veracidade. O que diz deles? Quando Cristo foi preso, depois de ter feito inúmeros milagres, a maioria dos apóstolos fugiu, e o que era o seu chefe permaneceu apenas para O negar.
Quando Cristo estava vivo, estes homens foram incapazes de suportar os assaltos dos seus inimigos. Morto Cristo e enterrado […], como se mobilizariam contra o mundo inteiro? Eles próprios não se terão interrogado: «Ele não foi capaz de se salvar a Si mesmo, e irá proteger-nos? Quando estava vivo, não foi capaz de Se defender, e agora que está morto vai sustentar-nos? Quando estava vivo, não foi capaz de submeter qualquer nação, e nós vamos convencer o mundo proclamando o seu nome?» […] É portanto evidente que, se não O tivessem visto ressuscitado e não tivessem tido a prova da sua omnipotência, não teriam assumido tal risco.

Comentário do dia São João Crisóstomo (c. 345-407)
Presbítero de Antioquia, Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
Homilia sobre a 1ª carta aos Coríntios 4, 3; PG 61,34

sábado, 18 de outubro de 2014


           A LEITURA DAS SAGRADAS ESCRITURAS

A leitura das Sagradas Escrituras é um prado espiritual e um paraíso de delícias, bem mais agradável do que o Paraíso de outrora. Deus não plantou este paraíso na terra, mas nas almas dos fiéis. Não o plantou no Éden nem no Oriente, num local específico (Gn 2,8), mas espalhou-o por todo o mundo, até aos confins da terra habitada. E, uma vez que compreendes que ele espalhou as Sagradas Escrituras por toda a terra habitada, escuta o profeta que diz: «Por toda a terra caminha o seu eco, até aos confins do universo a sua palavra» (Sl 18,5; Rom 10,18). […]

Este paraíso também tem uma fonte, como o de outrora (Gn 2,6.10), fonte de onde nascem inúmeros rios. […] Quem o diz? O próprio Deus, que nos dá todos estes rios: «Do seio daquele que acredita em Mim correrão rios de água viva, como diz a Escritura» (Jo 7,38). […] Esta fonte é incomparável, não apenas pela sua abundância, mas também pela sua natureza; com efeito, dela não jorram rios de água, mas os dons do Espírito. Esta fonte divide-se por todas as almas dos fiéis, mas não fica por isso diminuída: divide-se, mas não se esgota. […] Inteira em nós e inteira em cada um: tais são, com efeito, os dons do Espírito.
Queres saber qual é a abundância destes rios ? Queres saber a natureza destas águas? Em que é que elas são diferentes das águas aqui da terra, porque são melhores e mais magníficas? Escuta novamente Cristo, quando fala com a Samaritana, e compreenderás a abundância da fonte: «Porque a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente de água a jorrar para a vida eterna» (Jo 4,14). […] Também queres conhecer a sua natureza? Utiliza-a! Na verdade, ela não é útil para a vida aqui na terra, mas sim para a vida eterna. Passemos, pois, o nosso tempo neste paraíso: sejamos convidados a beber desta nascente.

São João Crisóstomo (c. 345-407)
Presbítero de Antioquia, Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
3ª Homilia sobre a inscrição dos Actos dos Apóstolos; PG 51,87
Fonte: Arautos do Evangelho

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

«Até os cabelos da vossa cabeça estão contados, não temais»



Deus envia-me a cruz. […] Bendita seja ela porque, como diz Job, «se recebemos os bens da mão de Deus, não aceitaremos também os males?» (2,10) Tudo nos vem dele, saúde e doença, bens temporais, infelicidades e infortúnios: tudo, absolutamente tudo, está perfeitamente ordenado. Se por vezes a criatura se rebela contra o desígnio de Deus, peca, porque tudo é necessário, tudo está bem feito, e os risos são tão necessários como as lágrimas. Podemos tirar proveito de tudo para a nossa perfeição, na condição de vermos, em espírito de fé, a obra de Deus em tudo e de nos colocarmos como crianças nas mãos do Pai. Com efeito, aonde iríamos nós sozinhos? […]
Não procuro arrancar-me aos sentimentos [que as minhas provações me inspiram], é evidente; mas aquilo que Deus quer é aperfeiçoá-los em mim. Para isso, leva-me por aqui e por ali, como um brinquedo, levando-me a abandonar pedaços do meu coração pelo caminho. Deus é grande e realiza tudo perfeitamente! Como me ama e que mal que eu lhe pago! A sua providência é infinita e devemos confiar-nos a ela sem reservas.

São Rafael Arnaiz Baron (1911-1938)
Monge trapista espanhol - Escritos espirituais, 11/08/1934

terça-feira, 14 de outubro de 2014

                   Luz perene no templo do Pontífice eterno

Que felizes, que ditosos aqueles servos que o Senhor ao voltar encontrar vigilantes! (Lc 12,37). Preciosa vigília pela qual se mantém alerta para Deus, criador do universo, que tudo penetra e tudo supera!

Oxalá também a mim, embora vil, mas, seu mínimo servo, se digne de tal forma sacudir-me do sono da inércia, acender o fogo da caridade divina. Que a chama de seu amor, o desejo de união com ele cintilem mais que os astros e sempre arda dentro de mim o fogo divino!

Quem me dera serem tais os méritos, que minha lâmpada estivesse sempre acesa, à noite, no templo de meu Senhor, para iluminar todos os que entram na casa de meu Deus! Senhor, concede-me, eu te rogo, em nome de Jesus Cristo, teu Filho e meu Deus, aquela caridade que não conhece ocaso, a fim de que minha lâmpada possa acender-se e jamais se apague. Arda para mim, ilumine os outros.

Que tu, Cristo, dulcíssimo Salvador nosso, te dignes acender nossas lâmpadas, de modo a refulgirem para sempre em teu templo, receberem perene luz de ti, que és a luz perene, para iluminar nossas trevas e afugentar de nós as trevas no mundo. Entrega, rogo-te, meu Jesus,Pontífice das realidades eternas,tua luz à minha candeia, para que por esta luz se manifeste a mim o santo dos santos que te possui, ali entrando pelos umbrais de teu templo magnífico, e onde somente e sem cessar eu te veja, te contemple, te deseje. Esteja eu apenas diante de ti, amando-te, e em face de ti minha lâmpada sempre resplenda, se abrase.

Suplico tenhas a condescendência de te mostrares, amado Salvador, a nós que batemos à tua porta para que, conhecendo-te, só a ti amemos, só a ti desejemos, só em ti meditemos dia e noite, sempre pensemos em ti. Inspira em nós tanto amor por ti quanto é justo que sejas, ó Deus, amado e querido. Teu amor invada todo o nosso íntimo, teu amor nos possua por inteiro, tua caridade penetre em nossos sentidos todos. Deste modo, não saibamos amar coisa alguma fora de ti, que és eterno. Uma caridade tamanha que nem as muitas águas do céu, da terra e do mar jamais a possam extinguir em nós, conforme a palavra: E as muitas águas não puderam extinguir o amor (Ct 8,7).

Que tudo se realize em nós, ao menos em parte, por teu dom, Senhor nosso, Jesus Cristo, a quem a glória pelos séculos. Amém.

de São Columbano, abade (século VI)
fonte: Tesouros da Igreja Católica

Um coração que verdadeiramente se dá a Deus


Compreendamos bem isto, o nosso coração pertencerá completamente a Deus a partir do dia em que por Ele renunciarmos a todas as nossas vontades, a partir do dia em que apenas quisermos o que Ele quer. Este Deus, de resto, só quer o nosso bem e a nossa felicidade. «Cristo morreu», diz o apóstolo Paulo, «para ser o Senhor dos vivos e dos mortos. Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos quer morramos, é ao Senhor que pertencemos» (Rom 14, 8-9). Jesus quis morrer por nós; que mais podia Ele ter feito para conquistar o nosso amor e Se tornar o único Dono do nosso coração? Cabe-nos portanto, doravante, mostrar ao céu e à Terra, com a nossa vida e com a nossa morte, que já não nos pertencemos a nós, mas que somos inteiramente posse do nosso Deus, dele apenas.

O quanto Deus deseja ver um coração que verdadeiramente se dá por completo a Ele! Com que amor ardente não o amará! Quantos sinais de ternura não lhe prodigalizará, já aqui, nesta vida na Terra! Quantos bens, quanta felicidade, quanta glória não lhe preparará nos céus! […]

Almas fiéis! Caminhemos ao encontro de Jesus; se Ele tem a felicidade de nos possuir, temos nós a de O possuir a Ele: a troca é muito mais vantajosa para nós do que para Ele. «Teresa», disse um dia o Senhor a esta santa [de Ávila], «não tinhas sido, até aqui, completamente minha; agora que és integralmente minha, fica a saber que Eu sou teu completamente.» […] Deus arde de um desejo extremo de Se unir a nós; mas é preciso que também nós zelemos no cuidado de nos unirmos a Deus.

Santo Afonso-Maria de Ligório (1696-1787)
Bispo, Doutor da Igreja 
6º Discurso para a novena de Natal

quarta-feira, 8 de outubro de 2014



                   
                           Senhor, ensina-nos a orar

Na oração, as palavras servem para nos estimular e nos fazer compreender melhor o que pedimos ; não pensemos que são necessárias para informar o Senhor ou forçar a sua vontade. Quando dizemos: «Santificado seja o vosso nome», estimulamo-nos a desejar que o nome de Deus, que é sempre santo em Si mesmo, seja também honrado como santo entre os homens, e nunca desprezado; e isto não é para benefício de Deus, mas dos homens. Quando dizemos: «Venha a nós o vosso reino» – que há-de vir certamente, quer queiramos, quer não –, excitamos a nossa aspiração por aquele reino, para que ele de facto venha a nós e mereçamos reinar nele. Quando dizemos: «Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu», pedimos ao Senhor que nos dê a virtude para que se cumpra em nós a sua vontade, como os anjos a cumprem no céu. […]
Quando dizemos: «Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido», tomamos consciência do que pedimos, e do que devemos fazer para merecermos receber o perdão. […] Quando dizemos: «Livrai-nos do mal», recordamos que ainda não estamos naquele sumo bem onde já não é possível sofrer qualquer mal. E estas últimas palavras da oração dominical têm um significado tão amplo, que o cristão, seja qual for a tribulação em que se encontre, pode com elas exprimir os seus gemidos ou lamentações, dar início, continuar ou terminar a sua oração.
Tínhamos necessidades destas palavras para gravar na memória todas estas realidades. Quaisquer outras palavras que possamos usar na oração […] nada mais dizem para além do que se encontra já na oração do Senhor, se de facto oramos como convém.

 Santo Agostinho (354-430)
Bispo de Hipona (Norte de África), Doutor da Igreja
Carta 130, a Proba, sobre a oração, 11-12 (trad. cf bréviaire 3ª feira da XXIX semana do Tempo Comum)

sábado, 4 de outubro de 2014

                                        PENSAMENTOS

                                          (Dos ensinamentos de Jesus à Irmã Consolata) 


     " Consolata, diz ao mundo quanto Eu sou bom e materno, e que, em troca, só espero amor das minhas criaturas. Tanto hoje como ontem, só peço e pedirei amor às pobres criaturas. Oh! Se pudesse descer a cada coração e derramar em torrentes as ternuras do meu coração!
      Ensaio por ser servido pelas minhas criaturas por amor. E não que evitem a culpa por medo dos meus castigos. Quero ser amado, quero o amor das minhas criaturas; e quando me amarem, não me ofendam mais.
     Ama-me, Consolata, ama-me somente; no amor está tudo. Quando me amas, dá a Jesus tudo o que Ele deseja das suas criaturas: o amor!
     Só o amor divino pode fazer de apóstatas, apóstolos; de de lírios sujos, lírios imaculados; de repugnantes pecadores cheios de vícios, troféus de misericórdia!
     Põe toda a atenção no dever de cada momento para realizá-lo com todo o amor possível. Quanto mais valor tiverem as tuas acções tanto mais crescerás no amor.
     Transforma em rosinhas todas as coisas aborrecidas que encontrares no caminho; apanha-as com amor e oferece-mas com amor. Eu gosto muito do que me oferecem; fá-lo com todo o amor possível; e, então, todos os vossos pequenos nadas se tornarão preciosos para mim.
     Consolata, diz às almas que prefiro um acto de amor e uma comunhão de amor a qualquer outro dom que me possam oferecer. Sim, um acto de de amor a uma disciplina, porque tenho sede de amor.
     Consolata, escreve - porque to imponho por obediência - que Eu criaria o Paraíso em troca de um acto de amor.
    Ama-me, Consolata; quanto mais me amares, mais santa te tornarás. Lembra-te de que o amor e só o amor te levará vitoriosa a todos os cumes.
    Ama-me e serás feliz, e tanto mais feliz quanto mais me amares. Oh! Se me amares, quanta felicidade reinará no mundo que é tão infeliz!"
«Porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos»
Recorda-Te de que, ao olhares para os campos,
O teu Coração Divino antecipava a ceifa (Jo 4,35)
Erguendo os olhos para a santa montanha
Murmuravas o nome de todos os teus eleitos
Para que a tua ceifa fosse logo feita.
A cada dia, meu Deus, imolo-me e peço
Que as minhas alegrias e prantos
Sejam pelos teus ceifeiros.
Recorda-Te. […]
Recorda-Te daquele Condenado de sofrimento esgotado
Que gritou, voltando-Se para o céu:
«Vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder» (Mc 14,62)
Que Ele era o Filho de Deus, ninguém queria acreditar (Mt 27,40ss),
Porque estava escondida a sua inefável glória.
Ó Príncipe da Paz (Is 9,5),
Eu reconheço-Te,
Eu creio em Ti!
Recorda-Te.
Recorda-Te de que, no dia da tua vitória,
Nos dizias: «Porque Me viste, acreditaste.
Felizes os que crêem sem terem visto» (Jo 20,29)
Na sombra da fé, amo-Te e adoro-Te
Ó Jesus! Para Te ver, espero em paz a aurora,
Que o meu desejo não é
Ver-Te aqui na Terra.
Recorda-Te.
Recorda-Te que, ao ires ter com o Pai,
Não podias deixar-nos órfãos
E, fazendo-Te prisioneiro na Terra,
Soubeste esconder os teus raios divinos.
Mas a sombra do teu véu é luminosa e pura,
Pão vivo da fé, alimento celeste (Jo 6,35),
Ó mistério de amor!
O Pão nosso de cada dia, para mim,
És tu, Jesus!

de Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897)
Carmelita, Doutora da Igreja

Poema «Jesus, meu amado, recorda-Te!»; estr. 15, 23, 27-28

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

     
                   Conduzi-me no caminho para a vida

— Senhor, vós me sondais e conheceis, sabeis quando me sento ou me levanto; de longe penetrais meus pensamentos, percebeis quando me deito e quando eu ando, os meus caminhos vos são todos conhecidos.
R: Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!
— Em que lugar me ocultarei de vosso espírito? E para onde fugirei de vossa face? Se eu subir até os céus, ali estais; se eu descer até o abismo, estais presente.
R: Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!
— Se a aurora me emprestar as suas asas, para eu voar e habitar no fim dos mares; mesmo lá vai me guiar a vossa mão e segurar-me com firmeza a vossa destra.
R: Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!
— Fostes vós que me formastes as entranhas, e no seio de minha mãe vós me tecestes. Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável me formastes! Que prodígio e maravilha as vossas obras!
R: Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!

Salmo 138 (139)

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

                                    
                 O AMOR A DEUS

       A Virgem Santíssima, como nenhuma outra criatura, foi o modelo perfeito de amor, como nos demonstra este trecho :
           "Voz de servo cristão, filho de Maria : Vós, Virgem Mãe, ao morrer, acabastes, pois, vítima do amor divino. O amor divino consumiu, enfim, com as últimas chamas, a vítima que já vinha sendo preparada desde há tantos séculos no plano de Deus.
           Uma alma tão generosa a Deus como obediente à sua vontade, tão fiel e tão santa, só podia separar-se do corpo por esta forma. Longe de eu ficar admirado de Vos ver morrer de amor, só me admira que a continuidade e o ardor dos arrebatamentos do vosso amor Vos tenham feito terminar a vida mais depressa.
           Tendo Vós saído pura e sem mancha das mãos do Criador, logo que O conhecestes, escolhestes o seu divino amor para o vosso único ideal e o vosso coração só viveu e se alimentou do mesmo ardor das chamas que o abrasaram.
           Em toda a vossa vida tivestes este amor: pensamentos, palavras, acções, temor, esperança, alegria, tristeza, tudo em Vós era dirigido ao Senhor.
           Quanto mais conhecidas eram as grandezas e perfeições incomparáveis de Deus, mais Ele parecia amável e mais era amado. Mas de entre as puras criaturas quem é que O conheceu melhor de que Vós?
           Vós, corações dos santos, fostes cheios deste amor mas o Coração de Maria teve o máximo desse amor. Vós, serafins, amais muito mas, à beira desta fornalha, o vosso amor não passa duma centelha.
           "Mãe do amor formoso" (1), era preciso ter amado o amor como Vós, para poder dizer e explicar quanto Vós amáveis. Vós morreis de amor e nós não vivemos! Nós não fazemos por buscar a felicidade de morrer ao menos de amor!
           Voz de Maria: qual a razão, meu filho, de só te ocupares deste mundo, se não é a única coisa que te faz estar nele? Deus criou-te para O amares.
           Grande a mania dos homens que dão o seu coração a um amor diferente do de Deus, que é o único que lhes pode dar a felicidade temporal e eterna.
           Deixa-te, meu filho, dessa infeliz cobardia que te faz ficar parado e atado nos caminhos do amor divino, pois pouco fizeste no caminho de Deus.
           Tens medo dos sacrifícios. Não há amor sem custo. É suspeito o amor de quem só o declara quando já nada tem a sofrer pelo amado. Procura amar acima de tudo, com coragem, disposto a perderes para isso até todos os bens do que a graça de Deus e disposto a sofrer antes todos os males do que a cometer a mais leve ofensa.
           Se a tua vontade se deixa encantar uma vez pelo amor, nada te parecerá impossível: "O amor é forte como a morte", não conhece dificuldades.
           Tens vícios a corrigir e sentimentos a dominar. Ama e o amor levará a cabo este trabalho e fá-lo-á em pouco tempo. 
           Não ames mais do que o que Deus ama. Quando amares com Ele qualquer coisa, ama como Ele quer que se ame. Só Deus deve satisfazer em tudo quanto nos agrada.
          O verdadeiro amor não dá qualquer importância àquilo que não é Deus nem é de Deus. Procura, portanto, só a Ele e em tudo faz por querer só a Ele.
          Meu filho, serás feliz  debaixo do reinado deste amor. Quanto mais viver dele, mais quererás viver. É verdade que terás de sofrer nas prisões mas ficarás bem triste de não seres escravo do amor do Senhor.
         Que este amor seja o teu tesouro, até na maior pobreza de bens deste mundo. Verás que Ele faz a vez de todos os bens.
         É principalmente na morte que se vê a felicidade de se ter deixado levar pelas atracções do senhor.
         A morte, essa hora de inquietações e lágrimas para a maioria das pessoas, é para um cristão um tempo cheio deste amor e de consolações e ainda da mais doce paz.
         Dá-te, pois, ao amor divino, abandona-te à sua orientação, seja ele a razão de ser da tua vida e o teu alimento. Procura fazer tudo por amor.
         Voz do servo cristão, filho de Maria: Eu sinto, Altíssima Virgem, eu sinto nascer em mim, ao escutar-Vos, um desejo muito forte de só ter daqui em diante o divino amor como único Mestre e Senhor.
         Ah! Já que o meu coração pode contentar ao meu Deus e só Ele o pode fazer, deixa já de pertenceres a mim e às criaturas para ficares dado e consagrado inteiramente ao Senhor.
         Este desejo é um fruto da graça que me foi alcançada de Deus, pois sem Ele e sem o seu auxílio, eu não podia amar.
         E, sem o seu socorro, eu não podia amá-lO como deve ser nem continuar neste amor. Ah! Rogai sempre por mim, a fim de o meu amor me acompanhar sempre no Senhor.
        Eu, no entanto, tremo, porque não me fio em mim próprio, por causa da minha inconstância mas Vós, que a conheceis e me repreendeis com toda a justiça, dignai-Vos ser o meu apoio e segurança por meio da vossa protecção.
        Sim, para longe de mim tudo o que não presta e é de desprezar, tudo isso que tem o seu fim no mundo e que é a morte do meu coração. O meu coração quer, enfim, viver e, meu Deus, será o viver sem o vosso amor?
        Ainda que as criaturas se queixem de eu as abandonar, elas, apesar de parecerem ser-me úteis, o que fizeram foi roubar-me a verdadeira felicidade.
        Vou persegui-las com o meu desinteresse e falta de apreço até elas deixarem de prejudicar o meu amor.
        Virgem Santíssima, modelo perfeito de amor, o meu coração vai ser  como que um céu onde irei amar unicamente o meu Deus com a justa esperança de morrer no seu amor e de amá-lO eternamente, imitando assim a vida que Vós, Virgem Santíssima, levastes na terra e imitando ainda a vida que levais no Céu e na companhia dos santos...

       Imitação da Santíssima Virgem, de uma tradução portuguesa, editada em Portugal pela Editoral Missoes, apartado 40 - 3721-908 Vila de Cucujães

Chegou a hora de rezar Maria 

como Rainha dos Anjos

Em 13 de janeiro de 1864, Padre Louis Cestac, que fundou a Congregação das Servas de Maria, (...) viu os demônios espalhados sobra a Terra, causando estragos indizíveis. Ele teve uma visão da Santa Virgem Maria lhe dizendo que efetivamente os demônios estavam enfurecidos e que havia chegado a hora de invocá-la como Rainha dos Anjos (…) para derrubar as potências do inferno. Ele recebeu da Santa Virgem esta oração :

“Augusta Rainha do Céu, soberana Rainha dos Anjos, vós que, desde o início recebeu de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, nós vos pedimos humildemente, envia vossas legiões celestes a fim de que, sobre suas órdens e pelo vosso poder, elas persigam os demônios, os cambatam por toda a parte, puninindo suas audácias e lançando-os para o abismo. Quem como Deus ?

Ó boa e terna Mãe, vós sereis sempre nosso amor e nossa esperança. Ó divina Mãe enviai os Santos Anjos para me defender e afastar para longe de mim o cruel inimigo. Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos, guardai-nos."

Oração indulgenciada por São Pio X, em 08 de Julho de 1908 

Fonte: Um Minuto com Maria


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Uma ligação cada vez mais forte entre o povo haitiano e a Virgem Maria

Haiti é um país das Grandes Antilhas que ocupa o terço ocidental da ilha de Hispaniola. Port-au-Prince é sua capital.

Foi nas Antilhas, na ilha de Hispaniola, hoje dividida entre dois países independentes, a República Dominicana e o Haiti, que Cristovão Colombo acostou quando, no dia 12 de outubro de 1492, ele descobriu a América. (...).

Foi a partir de Hispaniola, terra das primeiras colônias européias das Américas, que se espalhou a evangelização e a devoção mariana. Em Haiti, sob cinco catedrais, quatro são dedicadas à Santa Virgem e têm como origem, mais ou menos direta, esta primeira época da presença européia na ilha.

No restante do país, as paróquias que têm a santíssima Virgem como padroeira são numerosas, sob títulos diversos, de acordo com as preferências dos fiéis e sobretudo dos sacerdotes.

Desde 1882, época das grandes epidemias de varíola até a consagração da nação em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, uma união cada vez mais forte se formou entre o povo Haitiano e a Virgem Maria, com o título de nossa Senhora do Perpétuo Socorro. 
Um Minuto com Maria
Une initiative de l'Association Marie de Nazareth

24 de setembro – Nossa Senhora das Mercês – Inglaterra: Nossa Senhora de Walsingham – Haiti: Cozumel, o primeiro santuário mariano (1518) 

O poder de Deus Criador

O conteúdo do Salmo 92, sobre o qual  hoje  nos  detemos,  é  sugestivamente  expresso  por  alguns  versículos do  Hino  que  a  Liturgia  das  Horas propõe para as vésperas da segunda-feira:  Ó imenso criador, / que ao ímpeto das correntes marcastes o percurso e o limite / na harmonia da criação / tu que à áspera solidão / da terra sequiosa /deste o refrigério / das correntes e dos mares.

Antes de entrar no coração do Salmo, dominado pela imagem das águas, desejamos captar a sua tonalidade de fundo, o género literário que o domina. De fato, este Salmo, como os Salmos 95-98, é definido pelos estudiosos da Bíblia como "o cântico do Senhor rei". Exalta aquele Reino de Deus, fonte de paz, de verdade e de amor, que nós invocamos no "Pai-Nosso" quando imploramos:  "Venha a nós o Vosso Reino!".

Com efeito, o Salmo 92 começa precisamente com uma exclamação de júbilo que diz assim:  "Reina o Senhor" (v. 1). O Salmista celebra a realeza de Deus, isto é, a sua acção eficaz e salvífica, criadora do mundo e redentora do homem. O Senhor não é um imperador impassível, confinado no seu céu distante, mas está presente no meio do seu povo como Salvador poderoso e grande no amor.

Na primeira parte do hino de louvor prevalece o Senhor rei. Como um soberano Ele senta-se num trono de glória, um trono inabalável e eterno (cf. v. 2). O seu manto é o esplendor da transcendência, o cinto das suas vestes é a omnipotência (cf. v. 1). Precisamente a soberania omnipotente de Deus revela-se no centro do Salmo, caracterizado por uma imagem impressionante, a das águas caudalosas.
O Salmista menciona de modo mais particular a "voz" dos rios, ou seja, o bramido das suas águas. Efetivamente, o fragor de grandes cataratas produz, sobre aqueles que estão ensurdecidos e com todo o seu corpo tomado pelo estremecimento, uma sensação de grande força. O Salmo 41 recorda esta sensação quando diz:  "O abismo chama outro abismo no fragor das vossas cataratas. Todas as vossas vagas e torrentes passaram sobre mim" (v. 8). Face a esta força da natureza o ser humano sente-se pequeno. Mas o Salmista usa-a como trampolim para exaltar o poder, muito maior, do Senhor. À tripla repetição da expressão "as correntes elevam" (cf. Sl 92, 3) a sua voz, corresponde a tripla afirmação do poder superior de Deus.

Os Padres da Igreja gostam de comentar este Salmo aplicando-o a Cristo Senhor e Salvador. Orígenes, traduzido por São Jerónimo em latim, afirma:  "O Senhor reinou, revestiu-se de beleza. Isto é:  aquele que anteriormente tinha tremido na miséria da carne, resplandece agora na majestade da divindade". Para Orígenes, os rios e as águas que elevam as suas vozes representam as "figuras eminentes dos profetas e dos apóstolos", que "proclamam o louvor e a glória do Senhor, anunciam os seus juízos para todo o mundo".

Santo Agostinho desenvolve de modo ainda mais amplo o símbolo das correntes e dos mares. Como rios repletos de águas fluentes, isto é, cheios do Espírito Santo e fortificados, os Apóstolos já não têm receio e finalmente levantam a sua voz. Mas "quando Cristo começou a ser anunciado por tantas vozes, o mar começou a agitar-se". Na agitação do mar do mundo escreve Agostinho parece que a barca da Igreja flutua receosa, contrariada por ameaças e perseguições, mas "no alto, o Senhor é admirável":  ele "caminhou sobre as águas do mar e acalmou o seu fragor".

Mas o Deus soberano de todas as coisas, omnipotente e invencível, está sempre próximo do seu povo, ao qual dá os seus ensinamentos. Eis a ideia que o Salmo 92 oferece no seu último versículo:  ao trono altíssimo do céu sucede o trono da arca do templo de Jerusalém, o poder da sua voz cósmica é substituído pela doçura da sua palavra santa e inefável:  "São dignos de fé os Vossos testemunhos, da Vossa casa é própria a santidade, ó Senhor, por toda a extensão dos dias" (v. 5).

Encerra-se desta maneira um hino breve mas de grande intensidade. É uma oração que gera confiança e esperança nos fiéis que muitas vezes se sentem agitados, receosos de serem arrastados pela tempestade da história e atingidos por ameaçadoras forças obscuras.

Podemos reconhecer um eco deste Salmo no Apocalipse de João, quando o Autor inspirado, ao descrever a grande assembleia celeste celebra a derrocada da Babilónia opressiva, e afirma: "Ouvi, então, como que a voz de uma grande multidão, como o ruído de muitas águas e como o ribombar de grandes trovões que dizia:  "Aleluia! Eis que o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso, tomou posse do Seu Reino"" (19, 6).

Concluimos a nossa reflexão sobre o Salmo 92 dando a palavra a São Gregório de Nazianzo, o teólogo por excelência entre os Padres. Fazemo-lo com um seu bonito cântico no qual o louvor a Deus, soberano e criador, assume um aspecto trinitário:  "Tu [Pai], criaste o universo, a cada coisa atribuíste o lugar que lhe compete e tudo mantiveste em virtude da tua providência... é Deus-Filho o teu Verbo:  de fato, é consubstancial ao Pai, e igual a Ele na honra. Ele conciliou harmoniosamente o universo, para reinar sobre tudo. E, abraçando tudo, o Espírito Santo, Deus, de tudo cuida e tudo defende. A Ti proclamarei, Trindade viva, como único e só monarca... força inabalável que rege os céus, cuja visão não é acessível aos olhos mas que contempla todo o universo e conhece qualquer profundidade secreta da terra até aos abismos. Ó Pai, sê benigno comigo:  ... que eu possa encontrar misericórdia e graça, porque a ti são dadas glória e graças até ao fim dos tempos" .

-- Santo João Paulo II, na audiência de 3 de Julho de 2002 (papa)

quinta-feira, 20 de março de 2014


«Deus olha para o coração» (1S 16,17)

Terá o pobre sido recebido pelos anjos unicamente devido ao mérito da sua pobreza? E terá o rico sido enviado para o lugar dos tormentos apenas por culpa da sua riqueza ? Não: é preciso entendermos que foi a humildade que foi premiada no caso do pobre e o orgulho condenado no caso do rico.

Eis a prova de que não foi a riqueza mas o orgulho que levou a que o rico fosse castigado. O pobre foi levado para o seio de Abraão; mas as Escrituras dizem de Abraão que ele tinha muito ouro e prata e que era rico na terra (Gn 13,2). Se todos os ricos são enviados para o lugar dos tormentos, como pôde Abraão receber o pobre no seu seio? Acontece que Abraão, com toda a sua riqueza, era pobre, humilde, respeitador e obedecia a todas as ordens de Deus. Ele tinha a sua riqueza em tão pouca conta que, quando Deus lho pediu, aceitou oferecer em sacrifício o filho a quem destinava essa riqueza (Gn 22,4).

Aprendei, pois, a ser pobres e ter necessidades, quer possuais alguma coisa neste mundo quer não possuais nada. Porque encontramos mendigos cheios de orgulho e ricos que confessam os seus pecados. «Deus resiste aos orgulhosos», estejam eles cobertos de seda ou de trapos, «mas dá a sua graça aos humildes» (Tg 4,6), quer eles possuam, ou não, bens deste mundo. Deus olha para o interior; é aí que avalia, aí que examina.

Santo Agostinho (354-430)
Bispo de Hipona (Norte de África), Doutor da Igreja
Discursos sobre os salmos, Sl 85; CCL 39, 1178

quarta-feira, 19 de março de 2014

 «Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor»




Como foi fiel em humildade, este grande santo [que festejamos]! E tal não se pode dizer com base na sua perfeição pois, apesar de ser quem era, em que pobreza e opróbrio viveu durante toda a sua vida! Pobreza e opróbrio sob os quais escondeu e encobriu as suas grandes virtudes e a sua dignidade. […] Na verdade, não tenho dúvida nenhuma de que os anjos, cheios de admiração, vieram em bando considerar e admirar a sua humildade, quando ele guardava o Menino na oficina onde praticava o seu ofício, para alimentar o Filho e a Mãe que lhe estavam confiados.


Não há dúvida de que São José foi mais valente que David e mais sábio que Salomão [seus antepassados]; no entanto, vendo-o reduzido ao exercício da carpintaria, quem poderia conceber tal coisa sem estar iluminado pela luz celeste, tão bem escondidos ele trazia os dons admiráveis com que Deus o tinha agraciado? Mas tinha de ter muita sabedoria, visto que Deus tinha posto a seu cargo o seu glorioso Filho […], o Príncipe universal do céu e da terra! […] E, apesar de tudo, vedes como ele se rebaixou e humilhou mais do que se poderia dizer ou imaginar […]: foi à sua terra, à sua cidade de Belém, e ali ninguém foi mais rejeitado por todos do que ele. […] Vede como o Anjo o conduz à sua vontade: diz-lhe que tem de ir para o Egito e ele vai; ordena-lhe que regresse e ele regressa. Deus quer que ele se mantenha sempre pobre […], e ele a isso se submete amorosamente, e não apenas durante algum tempo, pois permaneceu pobre toda a sua vida.




São Francisco de Sales (1567-1622)
Bispo de Genebra, Doutor da Igreja
Conversas, nº 19

terça-feira, 18 de março de 2014


«Quem se humilhar será exaltado»


Não creio que haja alguém que precise tanto do socorro e da graça de Deus como eu. Por vezes sinto-me muito desarmada e fraca. E acredito que é por isso que Deus Se serve de mim. Uma vez que não posso contar com as minhas próprias forças, volto-me para Ele vinte e quatro horas por dia. E se o dia tivesse mais horas precisaria também da sua graça durante essas horas. Todos devemos agarrar-nos a Deus pela oração. O meu segredo é muito simples: rezo. Pela oração, uno-me a Cristo pelo amor. Compreendi que rezar-Lhe é amá-Lo. […]

As pessoas têm fome da Palavra de Deus que traz a paz, traz a união, traz a alegria. Mas não podemos dar o que não temos. É por isso que devemos aprofundar a nossa vida de oração. Sê sincero nas tuas orações. A sinceridade é a humildade e a humildade só se adquire aceitando as humilhações. Tudo o que foi dito sobre a humildade não chega para ta ensinar. Tudo o que leste sobre a humildade não chega para ta ensinar. Só se aprende a humildade aceitando as humilhações, e encontrarás humilhações ao longo de toda a tua vida. A maior das humilhações é saber que não somos nada; eis o que aprendemos quando nos encontramos frente a Deus na oração.

Por vezes, um olhar profundo e fervoroso para Cristo constitui a melhor das orações: olho-O e Ele olha-me. Neste face a face com Deus, só sabemos que não somos nada e que não temos nada.


Beata Teresa de Calcutá (1910-1997)
Fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
No Greater Love

segunda-feira, 10 de março de 2014

Santa Baquita, uma escrava moderna

Baquita nasceu em torno de 1869 na vila de Olgossa, próximo ao Monte Agilerei e da cidade de Darfur. Pertencia ao povo Daju, seu pai era razoavalmente próspero e muito respeitado, irmão do chefe da vila. Tinha três irmãos e três irmãs, como ela diz em sua auto-biografia: "Tinha uma vida feliz, sem preocupações, sem conhecer o sofrimento".

Ainda muito jovem, quando tinha cerca de oito anos, provavelmente em 1877, foi sequestrada por árabes mercadores de escravos. Já de início foi obrigada a andar cerca 960 quilômetros descalça até El Obeid, onde sua venda já estava arranjada até antes de chegar lá. Nos próximos 12 anos, ela foi revendida outras três vezes, até ser dada de graça. Devido ao trama do sequestro e outras violências, esqueceu seu nome; Baquita é um apelido dado por um dos seus captores e significa "sortuda"em árabe, tallvez por ter sobrevivido apesar de tudo. Também foi obrigada a seguir o Islamismo.

Um dos seus proprietários, um rico comerciante árabe, colocou-a para servir suas duas filhas, que a tratavam bem. Mas certa vez quebrou um vaso mais valioso que pertencia a um dos filhos, que enfurecido surrou-a com socos e chutes, deixando-a de cama por mais de um mês. Outro proprietário foi um general turco, Baquita deveria servir sua esposa e sogra, que eram bastante cruéis com os escravos. Relata ela: "Durante todos os anos que passei naquela casa, não lembro um dia em que tenha sido ferida ou espancada. Quando uma ferida começava a sarar, logo outros golpes abriam novos ferimentos". 

Certo dia ela e outros escravos foram marcados. As duas mulheres assistiram e colaboraram. Primeiro utilizando farinha, elas marcaram linhas no corpo de Baquita; então, com uma faca cortaram ao longo das linhas e colocaram sal nas feridas abertas para tornar as cicatrizes permanentes. Foram contadas 114 cicatrizes nos seios, ventre e braço direito. 

Ao final de 1882, a cidade de El Obeid estava ameaçada por revolucionários. O general turco começou a preparar o retorno para seu país, vendendo todos escravos, exceto 10 deles. Baquita foi comprada pelo Vice-Consul italiano Callisto Legnani, que era um homem mais culto e gentil. Pela primeira vez em muitos anos ela pode ter um pouco de tranquilidade. Quando Legnani, dois anos depois, retornou a Itália, Baquita implorou para não ser vendida e servi-lo em sua casa na Itália. Ao final de 1884, a família teve que fugir da cidade que já estava cercada, empreendendo uma travessia de 650 km no lombo de camelos por áreas perigosas até o porto de Suakin. Em Abril de 1885 chegaram ao porto de Genova. Legnani deu Baquita de presente para a família Michieli que também havia fugido do Sudão. Seus novos proprietários a levaram para uma mansão próxima a Veneza, onde Baquita ficou responsável por criar a filha recém-nascida do casal, que chamava-se Alice. 

Em 1886, Augusto Michieli decidiu comprar um hotel no porto de Suakin, vender sua mansão na Itália e transferir toda família de volta para o Sudão. A venda da casa demorou muito mais que o esperado. Em 1888, Baquita e a menina Alice foram colocadas em um convento sob custódia das irmãs canossianas, em Veneza, para aguardar o momento adequado de se irem para o Sudão. Mas quando sua proprietária retornou para levá-la, Baquita recusou-se firmemente, contando com o apoio da irmã superior, que nesta época já contava Baquita entre suas catecúmenas, candidatas a entrar na irmandade. A questão foi parar nos tribunais e em 29 de Novembro de 1889 foi decidido que como a escravidão já estava legalmente extinta tanto na Itália quanto no Sudão, Baquita nunca fora uma escrava; estava então com cerca de 20 anos e poderia escolher seu destino. Preferiu continuar seu caminho junto com as irmãs canossianas.

Em 9 de Janeiro de 1890 foi batizada, recebeu primeira comunhão e crisma do Arcebispo Giuseppe Sarto, futuro Papa Pio X. Assumiu o nome de Josephine Margaret e Fortunata (a tradução para o italiano de "sortuda"). Após este dia, sempre que havia ocasião, Baquita ia até a pia batismal, ajoelhava-se e beijava-a, dizendo: "Aqui tornei-me filha de Deus".

Em 7 de Dezembro de 1893 entrou no noviciado das Irmãs Canossianas e em 8 de Dezembro de 1896 proclamou seus votos, em celebração presidida pelo Cardeal Sarto. Em 1902 foi transferida para o convento de Schio, onde passou o resto de sua vida, exceto por um período entre 1935 e 1939, quando residiu no Noviciado Missionário de Milão e ajudou na preparação de jovens irmãs que iriam para a África. Segundo ela, seu coração e orações estavam sempre em Deus e na África.

Certa vez uma estudante lhe perguntou: "Irmã, o que você faria se viesse a reencontar seus captores e proprietários?" Ela respondeu:"Se eu viesse a encontrar meus sequestradores e torturadores, eu me ajoelharia aos seus pés e beijaria suas mãos. Por que se tais coisas não tivessem me acontecido, eu não seria uma cristã".

Durante 42 anoos, em Schio, Baquita ajudou como cozinheira, sacristã e porteira, tornando-se bastante conhecida na cidade. Sua gentileza, calma e alegria tornaram-na reconhecida pelos habitantes, que a chamavam de "Madre Morena". Seu carisma e reputação de santidade foram reconhecidos pela ordem, que em 1931 publicou um pequeno livro com sua história (Storia Meravigliosa, de Ida Zanolini), tornando-a famosa por toda It;alia. Durante a II Guerra, quando havia bombardeios, os habitantes corriam para o convento e pediam para que ela rezasse por todos. Embora bombas tenham caído em Schio, nenhum habitante morreu ou ficou gravemente ferido.

Seus últimos anos foram marcados pela doença, que a colocou em cadeiras de rodas. Sempre que perguntada sobre sua condição, respondia que estava como "o Mestre desejava". Suas últimas palavras foram "Eu estou tão feliz. Nossa Senhora, Nossa Senhora!". Santa Baquita morreu em 8 de Fevereiro de 1947, às 8:10 da noite. Por três dias os italianos vieram prestar-lhe homenagens.

Os pedidos para sua canonização iniciaram-se imediatamente e o processo foi instalado pelo Papa João XXIII. Em 1o de Dezembro de 1978, o Papa João Paulo II declarou-a venerável; em 17de Maio de 1992, declarou-a beata e em 1o de Outubro de 2000, foi canonizada. Sua memória é celebrada em 8 de Fevereiro.

Fonte: Tesouros da Igreja Católica