O AMOR A DEUS
A Virgem Santíssima, como nenhuma outra criatura, foi o modelo perfeito de amor, como nos demonstra este trecho :
"Voz de servo cristão, filho de Maria : Vós, Virgem Mãe, ao morrer, acabastes, pois, vítima do amor divino. O amor divino consumiu, enfim, com as últimas chamas, a vítima que já vinha sendo preparada desde há tantos séculos no plano de Deus.
Uma alma tão generosa a Deus como obediente à sua vontade, tão fiel e tão santa, só podia separar-se do corpo por esta forma. Longe de eu ficar admirado de Vos ver morrer de amor, só me admira que a continuidade e o ardor dos arrebatamentos do vosso amor Vos tenham feito terminar a vida mais depressa.
Tendo Vós saído pura e sem mancha das mãos do Criador, logo que O conhecestes, escolhestes o seu divino amor para o vosso único ideal e o vosso coração só viveu e se alimentou do mesmo ardor das chamas que o abrasaram.
Em toda a vossa vida tivestes este amor: pensamentos, palavras, acções, temor, esperança, alegria, tristeza, tudo em Vós era dirigido ao Senhor.
Quanto mais conhecidas eram as grandezas e perfeições incomparáveis de Deus, mais Ele parecia amável e mais era amado. Mas de entre as puras criaturas quem é que O conheceu melhor de que Vós?
Vós, corações dos santos, fostes cheios deste amor mas o Coração de Maria teve o máximo desse amor. Vós, serafins, amais muito mas, à beira desta fornalha, o vosso amor não passa duma centelha.
"Mãe do amor formoso" (1), era preciso ter amado o amor como Vós, para poder dizer e explicar quanto Vós amáveis. Vós morreis de amor e nós não vivemos! Nós não fazemos por buscar a felicidade de morrer ao menos de amor!
Voz de Maria: qual a razão, meu filho, de só te ocupares deste mundo, se não é a única coisa que te faz estar nele? Deus criou-te para O amares.
Grande a mania dos homens que dão o seu coração a um amor diferente do de Deus, que é o único que lhes pode dar a felicidade temporal e eterna.
Deixa-te, meu filho, dessa infeliz cobardia que te faz ficar parado e atado nos caminhos do amor divino, pois pouco fizeste no caminho de Deus.
Tens medo dos sacrifícios. Não há amor sem custo. É suspeito o amor de quem só o declara quando já nada tem a sofrer pelo amado. Procura amar acima de tudo, com coragem, disposto a perderes para isso até todos os bens do que a graça de Deus e disposto a sofrer antes todos os males do que a cometer a mais leve ofensa.
Se a tua vontade se deixa encantar uma vez pelo amor, nada te parecerá impossível: "O amor é forte como a morte", não conhece dificuldades.
Tens vícios a corrigir e sentimentos a dominar. Ama e o amor levará a cabo este trabalho e fá-lo-á em pouco tempo.
Não ames mais do que o que Deus ama. Quando amares com Ele qualquer coisa, ama como Ele quer que se ame. Só Deus deve satisfazer em tudo quanto nos agrada.
O verdadeiro amor não dá qualquer importância àquilo que não é Deus nem é de Deus. Procura, portanto, só a Ele e em tudo faz por querer só a Ele.
Meu filho, serás feliz debaixo do reinado deste amor. Quanto mais viver dele, mais quererás viver. É verdade que terás de sofrer nas prisões mas ficarás bem triste de não seres escravo do amor do Senhor.
Que este amor seja o teu tesouro, até na maior pobreza de bens deste mundo. Verás que Ele faz a vez de todos os bens.
É principalmente na morte que se vê a felicidade de se ter deixado levar pelas atracções do senhor.
A morte, essa hora de inquietações e lágrimas para a maioria das pessoas, é para um cristão um tempo cheio deste amor e de consolações e ainda da mais doce paz.
Dá-te, pois, ao amor divino, abandona-te à sua orientação, seja ele a razão de ser da tua vida e o teu alimento. Procura fazer tudo por amor.
Voz do servo cristão, filho de Maria: Eu sinto, Altíssima Virgem, eu sinto nascer em mim, ao escutar-Vos, um desejo muito forte de só ter daqui em diante o divino amor como único Mestre e Senhor.
Ah! Já que o meu coração pode contentar ao meu Deus e só Ele o pode fazer, deixa já de pertenceres a mim e às criaturas para ficares dado e consagrado inteiramente ao Senhor.
Este desejo é um fruto da graça que me foi alcançada de Deus, pois sem Ele e sem o seu auxílio, eu não podia amar.
E, sem o seu socorro, eu não podia amá-lO como deve ser nem continuar neste amor. Ah! Rogai sempre por mim, a fim de o meu amor me acompanhar sempre no Senhor.
Eu, no entanto, tremo, porque não me fio em mim próprio, por causa da minha inconstância mas Vós, que a conheceis e me repreendeis com toda a justiça, dignai-Vos ser o meu apoio e segurança por meio da vossa protecção.
Sim, para longe de mim tudo o que não presta e é de desprezar, tudo isso que tem o seu fim no mundo e que é a morte do meu coração. O meu coração quer, enfim, viver e, meu Deus, será o viver sem o vosso amor?
Ainda que as criaturas se queixem de eu as abandonar, elas, apesar de parecerem ser-me úteis, o que fizeram foi roubar-me a verdadeira felicidade.
Vou persegui-las com o meu desinteresse e falta de apreço até elas deixarem de prejudicar o meu amor.
Virgem Santíssima, modelo perfeito de amor, o meu coração vai ser como que um céu onde irei amar unicamente o meu Deus com a justa esperança de morrer no seu amor e de amá-lO eternamente, imitando assim a vida que Vós, Virgem Santíssima, levastes na terra e imitando ainda a vida que levais no Céu e na companhia dos santos...
Imitação da Santíssima Virgem, de uma tradução portuguesa, editada em Portugal pela Editoral Missoes, apartado 40 - 3721-908 Vila de Cucujães
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