Vítima

     Foi durante a terceira provação que o Senhor me deu a conhecer que me devia oferecer a Ele, para que de mim pudesse fazer o que Lhe aprouvesse. Era suposto colocar-me sempre na Sua  Presença como vítima de oblação. De início, fiquei bastante assustada, ao sentir a minha tremenda miséria e uma vez que bem me conhecia a mim mesma. Repliquei ao Senhor ainda uma vez mais: "Sou a miséria em pessoa, de que servirei como vítima?" - Hoje, não podes compreender isto; amanhã, dar-to-ei a conhecer durante a adoração. Palpitou-me  o coração, no meu mais intimo, tão fundo calaram essas palavras na minha alma. É que a palavra de Deus é viva.

     Quando cheguei para a adoração, senti interiormente ter entrado no santuário do Deus Vivo, cuja Majestade é por demais grandiosa e inconcebível. E o Senhor deu-me a conhecer o que os mais puros espíritos são perante Ele. Embora exteriormente nada visse, a Presença  de Deus trespassava-me por inteiro. Nesse preciso instante o meu intelecto foi iluminado de um modo estranho e surgiu, diante dos olhos da minha alma, uma visão que era como a de Jesus no Jardim das Oliveiras. Primeiro, os tormentos físicos e todas as circunstâncias que os iam agravando; em seguida, os sofrimentos espirituais em toda a sua amplitude e, ainda aqueles de que ninguém poderá sequer imaginar. Essa visão tudo englobava: suspeitas falsas, perca de reputação. O que aqui escrevo é apenas um recinto resumo, mas esse conhecimento era já de tal forma nítido que, o que mais tarde passei, em nada se diferenciava de tais momentos. O meu nome devia ser "vítima".

    Quando terminou esta visão, um suor cobria-me a testa.
                                                                    - Diário de Santa Faustina - Caderno I, 135