1.- Eu quero que saibas que toda virtude
e todo defeito desenvolve-se por meio do próximo.
Aquele que está na minha desgraça
prejudica ao próximo e a si-mesmo, que é seu principal próximo. Esta falta é
geral e particular; ela é geral porque estais obrigados de amar vosso próximo
como a vós mesmos, e ao amar-lo, deveis ser-lhe útil espiritualmente pelas
vossas orações e vossas palavras; deveis o aconselhar e o ajudar na sua alma e
no seu corpo, segundo as necessidades dele, pelo menos no desejo se não podeis
fazer de outra forma.
2.- Aquele que não me ama, não ama o seu
próximo, e não o amando não lhe pode ser útil. Ele prejudica-se, porque se priva
da graça; ele prejudica seu próximo, porque se priva das orações e de santos
desejos que me deveria oferecer e em que a fonte é o meu amor e a honra do meu
nome.
3.- Assim todo o mal vem da oportunidade
do, próximo que não se ama, desde que não me amais; e quando já não
dispomos desta dupla caridade, fazemos o mal porque já não fazemos o bem. A
quem fazemos o mal, senão a nos mesmos ou ao próximo? Não é a mim, porque o mal
não me atingiria, e não olho o que me foi feito a mim, mas aquele que é feito aos
outros.
4.- Fazendo o mal contra si-mesmo,
porque privando-se da minha graça, não podemos, por conseguinte, prejudicar-nos
mais de que isso. Fazendo o mal contra o próximo porque não lhe
damos o que lhe é devido em nome do amor, e que não me ofereçais por ele as
preces e santos desejos de caridade.
5.- Aqui está uma dívida
geral contra toda criatura dotada de razão; mas ela é mais sagrada ao olhar de
todos aqueles que vos envolvem porque estais obrigados de vos sustentar uns aos
outros pelas vossas palavras e vossos bons exemplos, procurando em todas as
coisas na utilidade do vossos próximo, como daquelas da vossa alma, sem paixão
e sem interesse. Aquele que não agir assim falta de caridade fraterna, e faz
portanto mal ao seu proximo; não só lhe faz mal por não lhe fazer bem, mas
ainda ao levar-le para o mal.
6.- O pecado atual ou mental do homem: é
cometido mentalmente, quando se delicia um pensamento de pecado, e quando se detesta
a virtude por um efeito de amor sensitivo, que destrói a caridade que
devemos ter por mim e pelo próximo. A partir do momento que concebemos assim o
pecado, procriamos contra o próximo de diversas maneiras, segundo a
perversidade da vontade sensitiva. É por vezes uma crueldade espiritual e
corporal: (10) ela é espiritual, quando se vê ou quando vemos as criaturas em
perigo de morte e de condenação pela perda da graça, e que somos bastante cruel
por não socorrer ao amor da virtude e ao ódio do vício.
7.- Por vezes aumentamos esta crueldade
ao comunicar aos outros: não apenas, por não dar o exemplo da virtude, mas
fazendo o ofício do demónio, ao retirar o mais que poder a virtude , dos
outros, e levando-os ao vício. Que maior crueldade pode-se exercer contra uma
alma, que de lhe retirar assim a vida da graça e de lhe dar a morte
eterna? A crueldade contra o corpo tem a sua fonte na ganância. Não só
negligenciamos a assistência do próximo, mas mais ainda lhe
despojamos até sua pobreza, seja pela força, seja pela fraude, fazendo-lhe
resgatar seu bem e sua vida.
8.- Ó crueldade insensível, pela qual,
eu serei sem misericórdia, se ela não for remida pela compaixão e bondade pelo
próximo! Ela concebe palavras que seguem quase sempre a violência e o crime, ou
das impurezas que mancham e mudam os outros, como gritos de animais imundos; e
não são apenas uma ou duas pessoas, que são infetadas, mas todos aqueles que
frequentam e se aproximam deste cruel corruptor.
9.- Que não conceba também o orgulho,
tão avido de reputação e de honras! Despreza o próximo, elevando-se acima dele
fazendo-lhe injurias. Se a sua posição social for superior, comete-se a
injustiça, tornando-se até num carrasco.
10.- O minha filha, gemeis sobre todas
estas ofensas e chorai sobre todas estas mortes, afim de que as tuas preces
os ressuscitem Vês quando e como os homens cometem o pecado contra a
próximo e pelo seu meio. Sem o próximo, não existiria pecados secretos ou
públicos. O pecado secreto, vem de não o assistir quando o deveríamos fazer;
o pecado público, é esta geração de vícios que acabo de falar. É portanto
verdade que todas as ofensas são sempre feitas por meio do próximo.(11).
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