A NOITE ESCURA
" Era estranho como a minha mente estava assim obscurecida; nenhuma verdade me parecia clara: quando me falavam de Deus, o meu coração era como pedra. Não conseguia extrair de mim um só sentimento que fosse, de amor para com Ele. Sempre que procurava, por um ato de vontade, permanecer em Deus, experimentava tormentos enormes e parecia-me que, deste modo, aí estava a Sua maior ira. Não era capaz de meditar, como antigamente. sentia um grande vazio na minha alma e nada havia que o pudesse preencher. Comecei a sofrer uma grande fome e ânsia de Deus; mas reconhecia a minha total incapacidade" (D.77)
Passando pela dificuldades da vida espiritual, a Irmã Faustina ia descobrindo o mistério da fé, tal como Abraão enquanto viajava pelo deserto terrível que o separava da terra prometida. Abraão confiou em Deus completamente, deixando a sua terra, Ur da Caldeia, os seus parentes e amigos, o seu património e os seus bens. Tomou apenas o indispensável e partiu. No deserto perdeu-se. Para trás de si já não via a pátria para poder regressar. Em frente havia grande escuridão que o envolvia e aterrorizava. Parecia-lhe que se tinha perdido para sempre. Então perguntou a Deus onde estava Ele. Porque se escondera e o obrigava a passar por estas experiências? Perguntava a si próprio se o Deus a quem obedecera não era uma ilusão? Deus, através da experiência interior, assegurou-lhe que estava mais perto d'Ele na escuridão do que em dia claro e alegre. O autor do Livro do Deuteronómio (cf. Dt 1,31) descreveu esta experiência de solidão da fé imaginando a situação da pessoa que atravessa o deserto e olha à sua volta perguntando onde está Deus? Na areia, vê apenas as suas pegadas e por isso lamenta-se diante de Deus por tê-lo abandonado, quando lhe tinha prometido estar por perto. Deus, respondendo ao homem, manda-o olhar bem para as pegadas na areia. Essas são as pegadas de Deus que leva o homem aos ombros como um Pai leva o seu filho. Ele leva-o aos ombros porque sabe que o homem não tem força para atravessar sozinho o deserto. Deus exige apenas que confiem n'Ele, pois é Ele que nos leva à terra prometida.
Jesus guiou a Irmã Faustina pela escuridão da fé, revelando-se-lhe desde o principio da sua vida religiosa. Chamava-a à vida mística, e ela, sendo uma Irmã simples, não sabia bem como tornar-se Esposa de Cristo. Na escuridão da fé a Apóstola da Misericórdia descobria a grandeza de Deus e, ao mesmo tempo, a sua tendência para pecar. Já não lhe bastava uma oração simples. Quando, numa das visões, Jesus lhe disse que, sendo Sua esposa, ia partilhar com Ele o seu destino (cf. D 268), começou a pensar como ela poderia participar na vida do Amado. Não era sacerdote para todos os dias no altar dizer as palavras: "Eis o Meu Corpo, eis o Meu Sangue".
Refletindo sobre o mistério da oração feita por Cristo no Horto das Oliveiras, compreendeu que, sofrendo, tinha a oportunidade de se aproximar do Salvador. Vendo o Seu suor de sangue, descobriu que, através do seu próprio sofrimento - primeiro a doença, depois passando pelo sofrimento espiritual da noite escura que a destruía interiormente -, podia estar perto de Jesus ...
Continuar este capítulo do livro, "Retiro com Santa Faustina" do Pe João Machniak - Edições MIC - Fátima, 2005 - pg71.
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