Como pôde a humanidade de Maria aceitar e aderir àquilo que Deus lhe
solicitava?
Se o evangelista São Lucas nos descreve
a visita de Maria a Isabel, não é certamente, apenas como simples relato da
história (...). Ele quer que compreendamos algo que diz respeito à obra da
Salvação e ao preparo para o nascimento de Jesus de Nazaré. Da mesma forma, não
é por acaso que o canto de ação de graças da Virgem Maria surge no final do
relato desta visita, como a conclusão do ciclo das anunciações. (...)
Para entender o motivo pelo qual a
Visitação prepara o Magnificat, precisamos, inicialmente, fazer um pequeno
esforço de imaginação, nós que conhecemos o final da história, para quem tudo
se realizou no plano da Salvação e por quem o Espírito Santo foi derramado em
nossos corações. Mas como pôde a Virgem Maria compreender o que estava
acontecendo, logo no início, quando viu surgir um Anjo em sua casa, em Nazaré,
vindo para lhe anunciar que ela seria a Mãe do Salvador? (...) E mesmo se o
diálogo termina bem na ordem da graça ("faça-se em mim segundo a tua
palavra" [Lc 1, 38]), como pôde a humanidade de Maria aceitar e aderir
profundamente ao que Deus lhe solicitava? (...)
Será que Maria conseguia discernir
claramente essa grande obra? (...) Foi sua prima Isabel que pronunciaria as
palavras que iriam confirmar o que disse o Anjo Gabriel: "Donde me vem que
a Mãe do meu Senhor venha me visitar? Pois, quando a tua saudação chegou aos
meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. "(Lc 1,
43-44). Desde então, Maria soube que ela não era o resultado de uma ilusão, de
uma ideia fixa ou de uma fantasia, mas que era realmente a obra de Deus que
nela se realizava.
E ainda há algo mais. Através do
reconhecimento daquilo que recebeu por meio de outra pessoa, Maria descobriu,
igualmente, que a criança que Elisabeth guardava em seu ventre já reconhecia o
seu Filho. Ao lermos o Evangelho apreendemos que o bebê que Isabel engendrou em
seu seio seria o maior entre os profetas e já se manifestara, naquele momento
da visita de Maria, atestando que a criança que Maria levava em seu ventre era
verdadeiramente o Filho de Deus.
É por isso que o
cântico de louvor de Maria pode, então, se manifestar. (...).
+ André Cardinal
Vingt-Trois, Arcebispo de Paris
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