[Juramento]
Não jurar, nem pelo Criador, nem pela criatura, a não ser com verdade, necessidade e reverência. Necessidade, entendo não quando se afirma, com juramento, qualquer verdade, mas quando essa verdade é de alguma importância acerca do proveito da alma ou do corpo ou dos bens temporais. Reverência entendo, quando ao proferir-se o nome do seu Criador, e Senhor, se lhe tributa, com toda a consideração, a honra e respeito devidos.
[Juramento pela criatura]
Convém advertir que, embora, no jurar em vão, se peque mais, jurando pelo Criador do que pela criatura, é mais difícil contudo, jurar devidamente com verdade, necessidade e reverência, pela criatura do que pelo Criador, pelas razões seguintes:
1.ª : Quando queremos jurar por alguma criatura, o querer nomear a criatura não nos faz estar tão atentos nem advertidos para dizer a verdade ou para afirmá-la com necessidade, como ao querermos nomear o Criador e Senhor de todas as coisas.
2.ª : Ao jurar pela criatura não é fácil mostrar reverência e acatamento ao Criador e Senhor e se profere o seu nome; porque o querer nomear a Deus, nosso Senhor, traz consigo maior acatamento e reverência do que querer nomear uma coisa criada. Portanto concede-se mais aos perfeitos do que aos imperfeitos jurar pela pela criatura, porque os perfeitos pela assídua contemplação e iluminação do entendimento, consideram, meditam e contemplam mais que Deus nosso Senhor está em cada criatura, segundo a sua essência, presença e potência; e assim, ao jurarem pela criatura, estão aptos e dispostos para prestar acatamento e reverência a seu Criador e Senhor do que os imperfeitos.
3.ª : No juramento frequente pela criatura, há-de temer-se mais a idolatria nos imperfeitos do que nos perfeitos.
[Palavras ociosas)
- Não dizer palavras. Por palavra ociosa entendo a que não me aproveita a mim nem a outrem, nem se profere com tal intenção. De sorte que, falar de tudo o que é proveitoso ou com intenção que o seja, à alma própria ou alheia, ao corpo ou aos bens temporais, nunca é ocioso. Nem por falar alguém de coisas que estão fora do seu estado, como se um religioso falasse de guerras ou comércio.
Mas em tudo o que se disse: há mérito quando as palavras se ordenam a bom fim, e pecado, quando se dirigem a mau fim ou se fala inutilmente.
[Difamação]
- Nada se deve dizer para difamar ou murmurar, porque se se revela um pecado mortal que não seja público, peca-se mortalmente; e venialmente, se se descobre um defeito, mostra-se um defeito próprio; mas, se for recta a intenção, de duas maneiras se pode falar do pecado ou falta de outrem.
1.º - Quando o pecado é público, como por exemplo, falar de uma meretriz pública ou duma sentença dada em juízo; ou dum erro público que corrompe as almas daqueles com quem se conversa.
2.º - Quando se descobre o pecado oculto a alguma pessoa, para esta ajudar a levantar aquele que está em pecado, contanto que se tenham algumas conjecturas ou razões prováveis de que assim o poderá ajudar.
(Exercícios Espirituais de Santo Inácio - Exame Geral)
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